...A pontuação é a respiração da frase e minha frase respira assim. E se você me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar! ...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Quando o sofrimento bater à sua porta

Estou terminando de ler o livro QUANDO O SOFRIMENTO BATER À SUA PORTA, do Pe.Fábio de Melo. Este livro chegou em minhas mãos através de mais um empréstimo de minha amiga Lita. Agora nas páginas finais reconheço o motivo de minha amiga ter me emprestado este livro. Acho que é devido a um sofrimento que vinha carregando a quase dois anos.E a Lita tão próxima de mim sabe de onde vem essa dor.
# Todos os dias quando acordo não penso só no meu sofrimento, mas todos os dias me pergunto o que meu irmão e minha cunhada faz para suportar um enorme sofrimento. Preencher um buraco, um vazio.
# Era setembro de 2008, meu irmão voltava feliz com sua família do Paraná, onde minha cunhada tinha ido levar meu sobrinho ao médico. Meu irmão foi até o Pr buscá-los.
No carro estavam: Meu irmão, minha cunhada e meus dois sobrinhos, um de 10 anos e o outro de 6 anos.Vinham felizes no carro, meu sobrinho de 10 anos vinha eufórico no carro para chegar logo em sua casa e abrir a caixa que eu havia mandado do Japão pra eles contendo um monte de brinquedos,roupas e chocolates que ele adorava.
# Meu irmão contava a novidade da construção de uma piscina na casa e prometia que naquele mês a piscina seria instalada no quintal.
# Foi quando um caminhão que trafegava à frente do carro deles quebrou o eixo da roda traseira e soltou um pneu, o pneu veio em encontro ao carro de meu irmão. Meu irmão desviou o carro ao ver o pneu se soltando e vindo em direção ao carro dele. O pneu bateu na frente do carro, depois bateu na porta do motorista, onde dirigia meu irmão e não se sabe como, o pneu atingiu a parte lateral atrás do motorista onde estava meu sobrinho de 10 anos. Foi fatal, meu sobrinho faleceu na hora. Todos os planos, alegrias e sonhos estavam desfeitos.
# Acho desnecessário narrar à dor, o susto e o vazio que ficou em nossas vidas. Desde então venho tentando compreender como se vive depois que perdemos um filho?
O que fazer com a dor e o vazio?Quem responsabilizar? Deus, o motorista do caminhão, o diabo? Seria destino ou fatalidade?Era pra ser dessa forma?
Havia chegado a hora?Quem culpar e como se consolar?
# Meu irmão me contou que o motorista foi pedir perdão aos prantos e que não era intenção dele que aquela fatalidade acontecesse.
Meu irmão o perdoou, não poderia colocar a culpa nas costas daquele homem que no momento trabalhava transportando uma carga para sustentar sua família.
Se revoltar com aquele senhor de quase 60 anos não iria trazer o filho de volta.
# Por muito tempo eu procurei respostas, mas no fundo eu buscava algo que diminuísse minha dor e a dor ficava maior cada vez que eu me colocava no lugar de meu irmão e minha cunhada. Foi uma morte absurda, uma fatalidade, eu sei, mas fruto de uma negligência humana.
O motorista não podia trafegar com o veiculo naquelas condições.
Se a regra tivesse sido obedecida, a história talvez pudesse ter sido outra.
Meu sobrinho estaria junto com o irmãozinho se divertindo na piscina nova da casa dele. E o irmãozinho dele não teria que sofrer tanto ao lembrar-se da cena do acidente.
# Muitas pessoas durante o velório tentaram consolar meu irmão e minha cunhada com aquelas frases feita:
-“Deus sabe o que faz, chegou a hora dele”.
# Tentar consolar assim é uma tentativa de calar o choro que nos incomoda, pois não queremos ninguém triste ao nosso lado. A tristeza do próximo nos chama atenção para nossas tristezas e nem sempre temos coragem de enfrentar as desarmonias de nosso mundo pessoal.
# Deus sabe mesmo, eu concordo! Quem não sabe, somos nós.
Chegou à hora coisa nenhuma. A vida e a morte estão em nossas mãos.
Jesus na Bíblia, ao dizer que não cai um fio de cabelo de nossa cabeça sem a permissão do Pai do Céu, não se refere a acidentes absurdos como esse.
# Pessoas que usaram essas explicações como formas de consolo para aliviar a dor alheia, fortalecem o ateísmo no mundo.
De Deus não nascem tragédias.
Não posso conceber que Deus tenha criado meu sobrinho para que morresse naquele terrível acidente.
Não posso crer que Deus possuísse um plano que consistisse em vitimar meu sobrinho no auge de sua vida, no momento em que ele estava tão feliz com a família e com os presentes que iria ganhar.
# Ao usar essas frases como forma de consolo aos que sofrem em uma hora dessas de perda, é como afirmar que Deus não é bom, mas, um carrasco cruel. Ainda insisto e prefiro acreditar que a morte do meu sobrinho foi fruto de uma negligência humana.
Creio que enquanto nós chorávamos aquela fatalidade, Deus chorava conosco. Mais uma vez a irresponsabilidade humana prevaleceu. Deus perdeu, do mesmo jeito que nós.
# Mas por que ele, sendo Deus não evitou o acidente? RESPOSTA: Porque ele não desrespeita as ordens que damos ao mundo. Ao trafegar com aquele veículo impróprio, o motorista do caminhão deu uma ordem ao mundo sobre a qual Deus não pode interferir. O que fazemos, por menor que seja, repercute mais cedo ou mais tarde.
A negligência prevaleceu sobre a vida de meu sobrinho, e por isso sua morte aconteceu. Se alguém tivesse agido por Deus e percebido aquele eixo defeituoso e chamasse a atenção do motorista, quem sabe assim Deus teria evitado o acidente.
Não por meio de uma intervenção sobrenatural, mas por meio de um cuidado humano, movido por um desejo de reorganizar o mundo, alertando o motorista sobre aquele eixo defeituoso.
# Naquele momento em que meu sobrinho morria, outras milhares de pessoas morriam no mundo por causa de outras negligências humanas. E como deveria ser?
Deus teria que mudar o destino de todas essas pessoas? E a nossa liberdade humana? Deus teria que viver então a nossa vida por nós? Nossos pais biológicos não assumem nossas responsabilidades, eles apenas nos orientam, mas não vivem por nós.
Então por que exigir isso de Deus, o nosso pai? Deus nos orienta através de nossa fé, através da Bíblia. O resto é responsabilidade que devemos assumir.
# A morte de meu sobrinho nos abateu muito.
Meu irmão e minha cunhada não quiseram se deixar levar pelas respostas mágicas oferecidas a eles.
Eles ainda acham que meu sobrinho morreu antes da hora. Deus não pôde evitar o acidente, mas tem dado forças para que eles permaneçam de pé.
Eles não precisaram culpar Deus para conviverem com a tristeza e com a ausência deixada por ela. Não perderam a fé e nem a esperança. Muitas vezes a saudade é maior que eles. Não escondem o choro quando sentem necessidade de chorar.
Eles choram, pois o choro purifica. Nunca colocaram culpa nos ombros de Deus, por mais que a força da saudade traga o desejo de ver chegar à porta o filho deles, tão alegre e brincalhão que era o meu sobrinho.
# Culpar alguém não aliviaria essa dor e essa saudade.
Iria deixá-los mais pesados e com mais sofrimentos. Depois do acontecido, por muitos meses meu irmão evitou dirigir, meu sobrinho menor se recusava a entrar em um carro, minha cunhada também.
Meu sobrinho menor fez várias seções com uma psicóloga e agora já perdeu a sisma. A vida deles aos poucos esta voltando ao normal.
#
Mas depois que voltou a dirigir, meu irmão tem evitado trafegar com seu carro atrás de um caminhão.
E sempre alerta os caminhoneiros que conversa, sobre o perigo de trafegar com o veículo em más condições.
É um jeito próprio de fazer justiça à morte do filho dele.
O milagre de meu sobrinho voltar é impossível, mas podem acontecer milagres com outra vida se houver cuidados. Meu irmão não consegue mudar o fato, mas ele decidiu permitir que o fato acontecido o modificasse.
# E eu depois de ler o livro entendi como eles conseguem suportar a dor e ir tentando preencher o vazio que bate à porta deles todos os dias junto com a saudade. Então tenho que seguir a força deles e aprender a conviver também com essa falta que sinto do meu querido sobrinho.

10 comentários:

  1. Por considerarte mi amig tienes un regalo en mi blog....porque no es necesario que llegue el día de los amigos para acordarse de ellos..!!


    saludos.

    SERGIO

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  2. Me emocionei com sua história Lilian, eu perdi um irmão num acidente tb, já fazem 4 anos e até hoje sofro com sua ausência, já me revoltei contra Deus, mas hoje estou melhor, a dor da perda com o passar do tempo ameniza, mas não cicatriza.

    Bom dia!

    beijooo.

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  3. Muito triste mesmo essa história, nem sei o que te dizer mas concordo com o Ale, nós temos nosso livre arbítrio.

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  4. Oi, Lilian

    Foi muito bom esse seu desabafo. Ele ajuda muita gente a compreender muitas coisas.
    Eu não sabia do acontecido, que terrível!
    Perder um filho e de maneira tão trágica ainda, vai além do ciclo que consideramos normal da vida.
    Suas palavras são um acalento não só
    para vc mesma, pode ter certeza. O que vc disse também me ajudou a compreender muita coisa.
    Ainda bem que teu irmão em vez da revolta tem usado o que aconteceu com ele para tentar melhorar o caminho dos outros por aqui. Depois do que li, concordo com o fato de que apenas indicamos o caminho, mas não podemos viver a vida de nossos filhos e assim acontece com Deus.
    Estou chocada e ao mesmo tempo mais compreensiva.
    Obrigada pelo post, por esse equilíbrio que vc me passou.
    Que Deus continue sempre presente em suas vidas.

    Bjs no coração!

    Nilce

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  5. Lilian,

    Imagino a dor que todos vocês devem ter sentido, nessas horas fico me perguntando qual o propósito dessa vida, do Criador, desse Deus que é tão bom e ao mesmo tempo tão carrasco. Faz dois anos e 3 meses que minha mãe fez sua viagem para a eternidade, eu era muito ligada a ela, aliás, ainda sou, o cordão umbilical não desfez. Só que a dor de perder um filho é infinita, é uma dor que nunca passa, é algo que vamos carregar pra sempre. Só que Deus, mesmo tendo tantos caminhos, sabe dar a consolação, aquela que só encontramos debaixo da sua palavra.

    Adoro e adoro você, japonesa linda.

    Deus abençoe seu irmão, sua cunhada, o irmãozinho, todos vocês.

    Rebeca

    -

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  6. Gostaria de agradecer a todos que comentaram, me enviando mensagens de apoio e carinho.
    A morte sempre deixa saudades, e quando a perda é prematura a dor é maior.
    Mas obrigado meus amigos blogueiros por serem tão carinhosos. Este meu blog eu pensei em muitas vezes deletar, mas o propósito dele existir é justamente para que eu possa compartilhar com vcs as minhas alegrias,minhas descobertas e minhas dores. E é justamente essa a minha fonte de força.
    Obrigado com muito carinho a todos vcs.

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  7. Lilian, nem pensar em deletar!
    Sobre perdas... Quase vinte anos atrás, a família do namorido foi vítima da violência que assola até hoje no país. A família teve que ser muito forte para superar a dor da perda, ainda de forma muito trágica e dolorosa. Pode achar o contrário, mas namorido acredita muito em justiça divina, e quem cometeu a barbarie já teve o que merecia.

    Deus abençoe a todos e ilumine vossos caminhos com a luz da sabedoria e plenitude.

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  8. Tenho um filho de 10 anos, um filho planejado, sonhado, amado... e enquanto lia pensava nele e na dor de sua família. Nada que alguém disser poderá explicar, consolar uma perda como essa. Somente Deus, pode dar o conforto nescessário.


    Bjs
    Mah

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  9. Passando pra te deixar beijinhos e carinhos... beijo, beijo!
    She

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  10. Amiga estou de volta,estive fora,fui curtir o são João em minha terre natal
    Beijos

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Fico feliz com sua visita e seu comentário.Ter você aqui é ter sua presença em forma de palavras!
E ai? O que você tem pra me dizer? Vamos prosear? e que importância tem se as palavras forem repetidas? Só de você estar aqui já me faz feliz!