...A pontuação é a respiração da frase e minha frase respira assim. E se você me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar! ...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

MINHA VIDA CIGANA

(minha cidade natal) Em 1999 morava no Japão e resolvi voltar pro Brasil, meu filho tinha quase 4 anos e concluímos(eu e meu esposo) que tava na hora de voltar. Eu e meu marido nos conhecemos aqui no Japão, no Brasil eu morava no Mato Grosso do Sul e ele no interior de SP, a dúvida ao voltar era: Pra onde ir? Quem iria ceder e morar na cidade do outro? Começar juntos em um lugar novo,desconhecido para ambos? Ou tirar no par ou ímpar,cara ou coroa? Até então só havíamos decidido ir pro Brasil, onde fixar moradia era outros quinhentos! Depois de muito pensar,pesar os prós e contras, meu marido venceu! Ele já tinha 1 terreno que os pais dele havia dado, e eu tinha uma grana razoável da partilha de uma herança e mais um pouco que havíamos levado do Japão. Meu marido me deixou livre para decidir o rumo pra onde iríamos, depois de muito pensar, concluí que seria melhor morar na cidade DELE. (cidade natal do meu marido)
Minha cidade natal crescia a olhos vistos, a agricultura e pecuária predominam na região e isso gera empregos, mas a violência acontecida em 1994 com meu pai me deixou em dúvidas.
Meu pai foi assassinado por bandidos armados que o renderam para roubarem o carro dele e depois o mataram, estava traumatizada e eu ainda não conseguiria morar na cidade onde cresci e fui feliz.
Por isso optei em morar na cidade natal de meu marido.
De início,detestei a cidade. As ruas não são plainas,muita subida e descida,Ruas estreitas, muitos bairros,pouco emprego,não conhecia ninguém, achava as pessoas frias,diferente dos Sulmatogrossenses que são simpáticos,gostam de um vaneirão,de tomar tereré em frente de casa em rodas de amigos e vizinhos.
Enfim,na época,odiei minha decisão.
Mas voltar atrás era deixar minha casa que já estava sendo construída em cima de um ponto comercial que havíamos construído e montado uma loja.
Eu estava fazendo um curso de cabeleireira e já havia montado 1 salão de beleza que também estava indo bem, eu conseguia com o que eu ganhava no salão,pagar o curso e ainda sobrava para despesas em casa.
Mas eu me sentia infeliz, sonhava que estava voltando em minha cidade natal,que revia meus amigos e parentes e cada vez que eu acordava desses sonhos minha tristeza aumentava.
Na época,apesar de trabalhar com o público eu me fechei.
Coitada de mim,tão coitadinha,por que as pessoas não vinham e tentavam ser generosas comigo,fazer amizade,ter pena de mim?
Entrei em depressão, e foi uma época difícil.
Por que eu achava que nada me favorecia.
Eu pensava: Que se dane a praia que tava ali perto a alguns kms(no MS não tem praia e eu adoro praia), queria os rios da minha cidade, queria minha rua,andar e conhecer as pessoas e ser reconhecidas por elas, eu queria o sabor das mangas,das jabuticabas, de ver os gados pastando,de ouvir narrações dos rodeios ecoando no ar nas festas de peão, eu queria dançar xote e vaneirão, ir ao cemitério sempre que sentisse saudade do meu pai, queria estar com minha amiga Paula por perto,abraçar minha madrinha,
Falar PORTA,PORTEIRA E PORTÃO sem ter que me preocupar com o “R” enrolando minha língua.
Ir aos campeonato de corrida de carriola, ninguém ali onde eu estava morando sabia o que era carriola, ali carriola é peruzinho! Um absurdo. Peruzinho é filhote de peru, ou da perua? Sei lá!
Tive uma crise de depressão e o médico diagnosticou que eu teria que ser internada urgente para tratar essa depressão e tomar remédios anti depressivo.
Foi então que eu me toquei que o caminho escolhido tava errado.
-Opa, para ai motorista, eu quero descer! Quando embarquei pensei que isso aqui ia pra outro lugar,esse lugar triste e de coitadinhas eu não quero ir não!
Desci e fui caminhando,pra quem estava sentada e indo pra onde a vida triste levasse,foi difícil caminhar, os pés doeram,fizeram calos,mas no caminho tive que me localizar, fui conhecendo pessoas e descobri que EU é quem teria que ir em busca do que eu queria e onde iria chegar.
Ao presenciar o médico conversando com meu marido e insistindo em um tratamento,decidi mudar.
Provar que meu remédio não seria internação e muito menos anti depressivos.
Oras,justo eu que me negava a tomar 1 sonrrisal iria me entupir de remédios?Pior, ser vista como louca?( eu pensei assim).
Fui pra casa,fiquei 1 semana me recompondo, depois fui em busca de uma nova vida.
Comecei a sair mais, ir nos lugares e conversar,fazer amizades, participar de eventos em família,escola,política,conhecer meus vizinhos,os cachorros da minha rua,os mercados,praças,padarias,bairros,área de lazer da cidade,voltei a pescar que eu tanto gostava,minhas clientes se tornaram minhas amigas e passei a amar aquela cidade e aqueles moradores.
Minhas referências estavam em minha cidade natal,mas que importa? Era preciso ter e fazer novas referências onde eu estava naquele momento.
Eu ainda mantinha contato com algumas pessoas de minha cidade natal que sempre contava as fofocas da cidade, do pessoal,os acontecimentos, o crescimento da cidade e sempre que podia eu ia lá passear, matava a saudade e depois voltava pra SP.
No início me entristecia quando eu via a minha cidade natal ficando distante toda vez que vinha embora.
Depois fui descobrindo que ser visita lá era mais emocionante, a recepção dos amigos e parentes faziam valer a saudade.
Os anos passaram,e o contato com algumas pessoas eu perdi, por conta da distância,outros por conta do destino,mas eu aprendi a amar a cidade do meu marido, me apaixonei pelas pessoas e não precisei deixar de amar minha cidade natal.
Amo as duas!
Faz 4 anos que decidi voltar ao Japão,achei necessário trazer meu filho para conhecer o País onde ele havia nascido,ele se encantou com o Japão e estamos ficando, quando cheguei aqui foi outro dilema, deixar aquela cidade que eu havia aprendido amar e vir morar em Osaka foi triste.
Quando cheguei aqui pela 1ªvez fui morar em Gunma e morei lá muitos anos, morar em Osaka era 1 desafio novo, queria voltar pra Gunma, mas de Osaka vim pra Aichi e estou aqui a quase 3 anos.
Gunma também amei, mas minha paixão atual é Aichi, e nessa vida cigana eu vou vivendo.
Sei que 1 dia terei que retornar ao Brasil,minha casa ta lá,me aguardando.
Tenho saudades e planos, quero ensinar meu filho a gostar de morar lá,e pretendo quando voltar dedicar meu amor aquela cidade, fazer algo por ela, quero conhecê-la melhor,em 4 anos muitas coisas mudaram e terei imenso prazer em experimentar e conhecer essas mudanças!
"...A vida não acontece somente dentro de uma casa, de uma cidade, de um país: ela tem de ser experimentada dentro do universo.
A felicidade é um jeito de viver, é uma conduta, é uma maneira de estar agradecido ao sol, à lua, a quem lhe estende a mão e também a quem o abandona, pois certamente nesse abandono está a possibilidade de você descobrir a força que existe em seu interior. "( Roberto Shinyashiki)

9 comentários:

  1. Sinto muito pelo seu pai, tb tive uma vida de cigana, agora parei um pouco, mas minha terra natal eu a amo e tenho vontade de voltar fixar residência lá um dia, atualmente moro em Curitiba(só não me acostumei ainda com o frio daqui).

    Fim de semana iluminado pra vc.

    beijooo.

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  2. Olá amiga

    Historias de nossas vidas são sempre belas de um lado e sempre tem algo triste de outro.
    Um bom dia e um ótimo final de semana.

    Bjo

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  3. Oi, querida

    Mudanças são transformações em nossas vidas, independente da distância. Que bom que vc conseguiu essa maravilhosa adaptação. Isso é crescimento.
    Parabéns pelo post.

    Bjs no coração!

    Bjs

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  4. Nossa que história! Sinto muito pelo seu pai. Posso imaginar pelo o que vc passou...
    Vida cigana mesmo heim! Mas é bom né? Conhecer vários lugares, várias culturas, línguas diferentes, isso é muito bom.
    Ótimo final de semana pra vc, bjus!

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  5. Oi amiga
    Estou pensando seriamente,em voltar as minhas origens,uma vez que sou de uma cidadezinha pequenina,que fica no coração da Chapada Diamantina,(Rio de Contas) aqui na Bahia.
    Essa sua disposição,com relaão à mudança é muito positiva.
    Que Deus a proteja sempre

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  6. Querida,
    Que lindo teu texto!
    Sabe, eu jamais mudei de cidade. Só de bairro e sofri horrores.
    Admiro sua coragem.
    Beijos.

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  7. Eu gostei muito de sua história.
    Sou apaixonada pelo Japão.
    Fico feliz de me escolher para ver meus rascunhos.
    Com carinho MOnica

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  8. Olá, meu nome é Cristiano Camargo, escritor,47 anos,casado.
    Estou escrevendo um livro cuja estória se passa na cidade de Osaka,e como,ao ver o seu blog, fiquei sabendo que você já morou em Osaka,talvez você saiba me dar algumas informações específicas não-turísticas sobre esta cidade,como:
    a)Quais os bairros nobres, de elite?
    b)ficam muito distantes do centro?
    c)Osaka é uma cidade difícil para conseguir vagas de estacionamento no centro?
    d)Minha personagem é uma adolescente(16 anos),filha de um dono de uma editora de mangás e de uma funcionária pública da Prefeitura da cidade, de alto escalão.Em que bairros de Osaka ficaria mais plausível que ela morasse?Ela também estudaria num colégio público, mas, será que está certo?Com este nível de vida ela teria como estar numa escola particular?Em que ano da escola ela estaria?
    Desde já, agradeço!
    Por favor entre em contato comigo para responder pelo email:
    camargocristiano@hotmail.com

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